Nem nos meus mais loucos sonhos imaginei uma história dessas.
Caminhando pelos corredores da Advocacia-Geral da União onde, teoricamente, nada de surpreendente deveria me acontecer, fui interrompido por uma moça que tinha sido minha aluna. Ela me parou para me contar um caso ocorrido há 12 anos. Sua irmã, grávida de sete meses, estava em casa quando foi surpreendida por um ladrão e, nervosa, entrou em trabalho de parto. Como o improvável e o tragicômico não escolhem hora e lugar, deu-se que o ladrão, comovido com a situação, desistiu do assalto e levou a moça ao hospital. A criança nasceu prematura e permaneceu vários dias entre a vida e a morte. A mãe caiu em depressão. Minha aluna, na intenção de aplacar o sofrimento da irmã, achou que deveria dar a ela um pouco de música. E aconteceu que o instinto fraternal fez o seu dever de casa: no disco presenteado, a música que fiz para o meu filho João. Num dos trechos, a canção diz o seguinte: "Ouço alguém me chama é a voz do vento. Nova desmedida sensação. Toca a minha mão, a mão do tempo. Tempo que me fez o homem João. Pai é hora, o sonho que é viver. Choro agora, pra cantar quando crescer".
A mão se apegou a esse pequeno pedaço da letra como um mantra, fortalecendo a esperança de ver o filho sobreviver; e ele sobreviveu. Ela, por conta da minha música, resolveu que seu filho também se chamaria João. Segundo minha aluna, o menino tem hoje 12 anos e, contra todas as dificuldades, toca violão. E uma das músicas que mais gosta de tocar é "Chora João".
Todo mundo sabe que, após gravada e publicada, uma música engendra histórias fora do controle do seu autor mas, definitivamente, por tamanha aventura eu não esperava. A vida é realmente bela!
Um comentário:
Maravilhoso! Vc é incrível e de uma sensibilidade fora de série. Bjs
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